sexta-feira, 2 de dezembro de 2011

Número de novos casos de AIDS permanece estável

Com 2,7 milhões de contaminações tendo ocorrido a cada ano durante os últimos cinco anos, a epidemia mundial de AIDS permanece estável, segundo o relatório anual divulgado na última segunda-feira pela UNAIDS, órgão das Nações Unidas para o combate à doença. Quase 7 milhões de pessoas estão recebendo tratamento  e este número tem aumentado de maneira constante. Mas ainda não está perto de dar conta do índice de novas contaminações: no ano passado, 1,35 milhão de portadores do vírus começaram a se tratar, ou seja, para cada 200 pessoas que foram contaminadas, 100 iniciaram tratamento. Isso representa uma melhoria em relação a dois anos atrás, quando havia 250 novos contaminados para cada 100 tratados.
Por outro lado, uma notícia que traz um mau presságio: a de que os investimentos de fundos de doadores em ajuda no combate a AIDS caíram cerca de 10 por cento no ano passado. A redução está relacionada à crise econômica mundial, que levou ao corte de doações em alguns países. Saber se a generosidade do mundo constitui uma conquista ou um fracasso depende do critério utilizado. Os 7 milhões de soropositivos que estão recebendo tratamento representam cerca de metade das pessoas doentes o bastante para necessitar de tratamento imediato, de acordo com as diretrizes da Organização Mundial de Saúde. Mas os dados ficam aquém da nova e ambiciosa estratégia de "testar-e-tratar", meta aprovada no ano passado pela UNAIDS e neste mês pela secretária de Estado Hillary Rodham Clinton, que falou acerca do assunto em um discurso no qual fez um apelo por uma "geração sem AIDS". Para alcançar esse objetivo, todas as 34 milhões de pessoas contaminadas no mundo teriam de ser encontradas _ uma verdadeira tarefa de Sísifo _ e, em seguida, receber medicamentos antirretrovirais imediatamente, para evitar que passem o vírus adiante. Além disso, elas precisariam tomar os remédios mais recentes, como o tenofovir, enquanto, atualmente, muitas ainda estão recebendo os antigos, mais baratos, que desencadeiam efeitos colaterais severos.
Funcionários da UNAIDS tentaram enxergar o relatório de modo otimista. O Dr. Bernhard Schwartlaender, diretor do departamento de estratégias da agência, afirmou foi "ano de virada na ciência" no que diz respeito à AIDS, chamando a atenção, em especial, para um estudo que mostra que as pessoas que estão em tratamento diminuem em 96 por cento suas chances de transmitir o vírus. Além disso, ele destacou as áreas em que houve um progresso notável. Quase metade das mulheres soropositivas grávidas tomam pelo menos um medicamento para ajudar a prevenir a transmissão do vírus a seus filhos.
Onze países pobres ou de renda média tratam agora mais de 80 por cento de seus cidadãos contaminados. Essa é uma porcentagem quase tão boa quanto a encontrada nos Estados Unidos, uma vez que os Centros de Controle e Prevenção de Doenças presumem que 20 por cento dos soropositivos norte-americanos não sabem que têm o vírus. Os onze países são Botswana, Camboja, Chile, Comores, Croácia, Cuba, Guiana, Namíbia, Nicarágua, Ruanda e Eslováquia.
Além disso, o número de novas contaminações diminuiu em 22 países. Epidemiologistas atribuem esse declínio a diversos fatores: o medo da morte, que inibe comportamentos imprudentes; a educação sobre o sexo seguro, que, ainda que lentamente, está crescendo; e o aumento no número de soropositivos que estão sendo tratados com medicamentos, especialmente no sul da África, o que significa que pessoas com cargas virais mais baixas estão menos propensas a contaminar as outras.
Apesar da melhoria na África, os novos casos de contaminação permanecem em 2,7 milhões por ano em todo o mundo, porque a Ásia e a Europa Oriental estão indo muito mal. As epidemias são alimentadas por viciados em drogas _ com os quais é bastante difícil lidar _ e também por grupo como os homossexuais masculinos e as prostitutas. Estas, que em sociedades conservadoras carecem da força política que lhes permitiria ter acesso a medicamentos e que, por medo da repressão policial, acabam por ter relações sexuais rápidas e furtivas, incorrem em comportamentos de alto risco.
Estudos realizados na Europa Oriental e na Ásia Central mostram que muitos usuários de drogas evitam as clínicas, mesmo quando precisam de cuidados médicos, por medo de ser entregues à polícia. O relatório traçou um contraste entre Dhaka, onde o governo bengalês introduziu medidas como a limpeza de agulha compartilhadas, e São Petersburgo, onde o governo russo não implementou políticas para os usuários de drogas. A contaminação entre pessoas desse grupo caiu 25 por cento em Dhaka e dobrou em São Petersburgo. Apesar de seu governo conservador islâmico, o Irã tem ido muito bem na contenção da contaminação entre dependentes químicos, graças à criação de uma rede de 600 clínicas que oferecem agulhas limpas e tratamento à base de metadona. O relatório soa bastante direto _ algo incomum para uma agência da ONU _, na medida em que compara diretamente um país ao outro. O Camboja, por exemplo, reduziu as contaminações mais rápido do que o seu vizinho mais abastado, o Vietnã, porque mirou na indústria do turismo sexual, enquanto o Vietnã tem se esquivado de ajudar os usuários de drogas e gays que encabeçam a epidemia.
Brasil e Rússia têm economias de porte semelhante e ambos gastam cerca de 700 milhões de dólares por ano no combate à AIDS, mas o Brasil está indo bem melhor, porque se concentra em grupos de alto risco, como prostitutas e gays. A Rússia tomou a "decisão prioritariamente política" de não ajudar seus usuários de drogas injetáveis, disse Schwartlaender. "O custo-benefício não compensa". Segundo ele, países onde a homossexualidade é punida com prisão ou pena de morte jamais vão enfrentar as suas epidemias, porque os homens gays se escondem.
Muitos países que estão indo mal têm grandes populações. Por isso, mesmo que as suas taxas de contaminação sejam menores do que as da África, eles têm grandes epidemias. No Egito, Irã, Paquistão e Ucrânia, por exemplo, menos de 20 por cento das pessoas que necessitam de tratamento estão sob cuidados. Em Bangladesh, China, Índia, Indonésia, Nigéria e Rússia, menos de 40 por cento são tratadas.
Até metade das crianças contaminadas ao nascer, segundo o relatório, são contaminadas porque suas mães, por temer a zombaria de enfermeiras ou vizinhos, evitam ser submetidas a testes de HIV. O relatório endossou os kits caseiros de teste de HIV, que empregam um cotonete para passar na parte interna da bochecha ou uma picada no dedo, custam centavos e revelam o resultado em poucos minutos.
Líderes globais do combate à AIDS, incluindo Michel Sidibé, diretor executivo da UNAIDS, estão pressionando os países para depender menos de doações. Ele elogia regularmente a África do Sul, que paga 80 por cento das suas próprias despesas. A instituição beneficente Médicos Sem Fronteiras observou que vários países planejam começar a tratar soropositivos com medicamentos mais cedo, incluindo Quênia, Lesoto, Malawi, Uganda, África do Sul e Zâmbia.
"Eles estão dando indicativos de que desejam obter melhorias mais rápido", disse Sharon Ann Lynch, conselheira política da instituição. "Nenhum deles, porém, consegue fazê-lo sem apoio externo, com a exceção, talvez, da África do Sul".

Enviado por: Maria Nunes 49031

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